Os jogadores de futebol da Europa estão cada vez mais vocalizando sua insatisfação com o calendário lotado de jogos. Atletas e treinadores renomados, como Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid, e Rodri, meio-campista do Manchester City, estão defendendo a necessidade de uma revisão urgente na organização das temporadas. A possibilidade de greve dos jogadores já começa a ser discutida como uma resposta à sobrecarga de partidas, apontada como um fator de risco para a saúde física e mental dos atletas.
Em coletiva de imprensa antes do confronto entre Real Madrid e Espanyol pela La Liga, Carlo Ancelotti ressaltou que o cansaço dos jogadores é um problema crescente e que uma mudança no calendário deve ser considerada. "A reclamação não vai alterar o calendário desta temporada. É importante refletir sobre isso e pensar que os jogadores estão cansados e querem mudar o futuro do futebol. A redução dos jogos poderia ser o resultado de uma queda salarial generalizada, o que os atletas merengues não teriam problemas em aceitar. O objetivo é jogar menos partidas para evitar lesões", declarou o treinador italiano.
Ancelotti se une ao coro de grandes nomes do futebol, como Rodri, que recentemente também externou sua preocupação com o excesso de partidas. O meio-campista espanhol indicou que a greve não é uma possibilidade distante. "Acho que estamos próximos disso. Se perguntar para qualquer jogador, ele vai dizer o mesmo. Se continuar assim, chegará um momento em que não teremos outra opção", afirmou Rodri em uma coletiva de imprensa.
A temporada 2024/25 da UEFA Champions League já reflete essa sobrecarga, com a adição de dois jogos na fase inicial. Agora, as equipes disputam oito rodadas com adversários diferentes, ao contrário do formato anterior de seis jogos em grupos de turno e returno. Além disso, foi introduzida uma disputa eliminatória para as equipes que não se classificam diretamente às oitavas de final.
Clubes como Manchester City e Real Madrid podem ultrapassar a marca de 79 jogos na temporada 2024/25, considerando todas as competições em que estão envolvidos, incluindo a Premier League, Copa da Inglaterra, Copa da Liga Inglesa, Community Shield, Champions League, Mundial de Clubes, além de amistosos de pré-temporada. O City, caso chegue às finais de todos os torneios, pode alcançar até 80 jogos. O Chelsea, envolvido em campeonatos como a Conference League, pode atingir até 81 partidas no mesmo período.
Esse número elevado de compromissos não é mais uma exclusividade do futebol brasileiro, conhecido por suas maratonas de jogos. Em 2023, o Fortaleza foi o clube que mais entrou em campo no Brasil, com 78 partidas, seguido por Flamengo (76), Corinthians e Palmeiras (73 cada). Agora, times europeus também enfrentam uma realidade semelhante ou até mais desgastante.
A discussão sobre uma possível greve ganhou força após as declarações de Rodri. Dias depois, outros jogadores de destaque se posicionaram de forma similar. Daniel Carvajal, lateral do Real Madrid, e Jules Koundé, zagueiro do Barcelona, expressaram apoio à ideia, afirmando que o excesso de jogos é insustentável.
"Concordo com tudo o que ele (Rodri) disse. O calendário fica mais longo a cada ano, temos mais jogos, menos tempo de descanso. Já falamos isso há muito tempo e ninguém presta atenção em nós", criticou Koundé. Carvajal, por sua vez, destacou a possibilidade de greve: "Os jogadores não são levados em conta. Devemos levantar a voz", afirmou o lateral à Rádio Cope.
Técnicos também têm se mostrado preocupados com o desgaste de seus atletas. Pep Guardiola, do Manchester City, e Carlo Ancelotti têm demonstrado apoio à ideia de que os jogadores devem ser ouvidos, e que uma mudança no calendário se faz necessária para garantir a integridade física dos atletas.
O sindicato global de jogadores, FifPro, recomenda que nenhum atleta dispute mais de 55 partidas por temporada, incluindo jogos por clubes e seleções. No entanto, essa orientação tem sido ignorada na prática, e diversas entidades que defendem os direitos dos jogadores já estão tomando medidas.
Associações de atletas de países como Inglaterra e França entraram com ações legais contra a FIFA, questionando a forma como o calendário internacional é montado. Além disso, um grupo de 30 ligas europeias apresentou uma reclamação formal à Comissão Europeia contra a criação do Super Mundial de Clubes, outro torneio que aumentaria o já inchado calendário de jogos.
O debate sobre o calendário do futebol europeu se intensifica a cada nova temporada. Com clubes disputando até 80 partidas anuais, o desgaste físico e mental dos jogadores se tornou um tema central nas discussões sobre o futuro do esporte. Declarações de atletas como Rodri e Carvajal, somadas ao apoio de técnicos como Ancelotti e Guardiola, mostram que a insatisfação é real e pode culminar em uma greve, caso as demandas por uma redução no número de jogos continuem a ser ignoradas.
O futuro do futebol pode passar por uma revisão estrutural, mas a pergunta que fica é: até que ponto a UEFA, FIFA e outras entidades organizadoras estão dispostas a sacrificar parte de seus calendários em prol da saúde dos jogadores?
Studio Mix Esportes